“Eu acreditava muito em Papai Noel, mas ele nunca vinha me visitar. E eu não entendia o porquê. Ficava imaginando o que tinha feito de errado. E todo Natal, esperava o ano inteirinho, e ele não vinha… Até me emociono.”
João Benedito Passarinho, ou simplesmente Passarinho, tem 70 anos e o encanto de uma criança. Ele crê no Papai Noel. Ele é o Papai Noel!
Passarinho vai às lagrimas diversas vezes quando conta sua história de infância, sua angústia por não ser visitado pelo Bom Velhinho. Ele, aliás, é bom de contar histórias, é bom com as crianças e é bom velhinho.
Criado em Adamantina, hoje ele retribui à cidade tudo que ela lhe ofereceu. Com mais sete irmãos, Passarinho cresceu com os pais numa casa de quatro cômodos, muita dificuldade, mas com o sonho natalino cravado no peito desde cedo.
“A gente só tomava refrigerante uma vez no ano: no Natal. Minha mãe dava uma garrafinha de Sodinha para cada um, a gente enterrava no quintal para dar uma refrescada, depois lavava a garrafinha e fazia um furo com prego na tampinha, para só pingar na língua e durar o dia todo, porque sabíamos que só iriamos sentir aquele gosto de novo daqui um ano”, relembra ele.
Ainda aos sete anos, Passarinho teve de fazer sua primeira análise de vida. Uma dura reflexão: “Eu estava desconsolado que todo ano eu esperava, esperava e nada de o Papai Noel me visitar. Aí eu comecei a observar que, quanto mais dinheiro tinha a família da criança, melhor era o presente do Papai Noel. E eu não entendia. Para criança pobre o Papai Noel não vinha, e para as com dinheiro, que os pais tinham condições de dar presentes, ele vinha.”
As constatações, porém, lhe serviram de inspiração. “Com essas observações, e crescendo um pouquinho mais, eu fui percebendo o que acontecia de verdade, entendendo e me conformando. Aí, já mais velho, depois de casado, eu me tornei o Papai Noel e passei a levar presente para as crianças. Porque na minha cabeça criança é criança, não é rica nem pobre, ela tem que acreditar e ser estimulada a isso.”
E lá se vão quase 30 anos sendo o Papai Noel em Adamantina, num esforço pessoal que também envolve toda a família. “Eu pego as cartinhas que as crianças escrevem para o Noel e tento comprar os presentes, do meu bolso mesmo. Minha esposa embrulha, meu genro me leva e eu chego na casa e mostro a cartinha pra criança: ‘Foi você que me escreveu?’, pergunto. Aí a criança já se emociona, fica eufórica. É muito gratificante. Cada presente é uma emoção, e eu não me canso disso”, relata, novamente iniciando um choro.
E Passarinho faz tão bem esse trabalho que a própria Prefeitura de Adamantina o convida há alguns anos para ser o Papai Noel oficial do município. Mas, mesmo ficando na Casa do Papai Noel, ele não abandona os presentinhos que entrega por conta própria. “Ser o Papai Noel é minha razão, meu jeito de retribuir à vida, às pessoas, à cidade”, define ele.
Além de ser o Papai Noel, João Benedito Passarinho trabalha há dez anos na biblioteca municipal de Adamantina, no atendimento, e também faz contação de histórias para as crianças.
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Texto: Thiago Ferri | Foto: Prefeitura de Adamantina