Mais uma encomenda entregue. A cliente retira o par de botas pretas de um saco plástico de supermercado, olha satisfeita e entrega o pagamento. Quem recebe é Claudemir Marques, o Lico, 51 anos de vida e 22 anos como engraxate. “Comecei ainda criança, o início é difícil pra todo mundo, mas se a gente batalha acaba conseguindo.”
Lico foi aconselhado pelo amigo João Sergipano e não deixou que o trabalho informal fosse empecilho para pensar no futuro. Tratou logo de se tornar um microempresário individual para vislumbrar os benefícios de uma aposentadoria. Por essas e outras, embarga a voz ao falar do amigo, que considera como um pai.
O engraxate escolheu de vez ganhar a vida na Praça XV de Novembro, em Rio Claro, quando optou ante um emprego num jornal como auxiliar. “Amo o que faço, cada dia é um dia diferente, muitas histórias. Aqui eu sou também um psicólogo, às vezes as pessoas nem tem o que engraxar, mas param aqui pra ler um jornalzinho, bater um papo.”
Não pense que o segredo de um bom engraxate é a cadeira especial, produtos, destreza dos panos, ou ângulos de polimento. Lico compartilha o seu segredo: “tem que ter carisma.”
Carisma parece mesmo ser um dos fortes de Lico. A todo tempo alguém acena, faz um gracejo, emenda uma piada. Assim, os sapatos que passam por Rio Claro brilham, uns com o auxílio de graxa e pano, outros através do reflexo do sorriso de satisfação de alguém que ama o que faz.
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Texto e foto: André Romani