Moleque travesso, que vive aprontando das suas. Com sua carapuça vermelha na cabeça, pito na boca, é ligeiro como só ele. É só um descuido e pronto: olha lá a crina do cavalo trançada. As roupas do varal, cadê? Eita, o leite talhou! Ah, não se pode dizer que esse moleque não tem humor. E arte? É com ele mesmo.
Você já deve bem ter se dado conta de que estamos falando do Saci. Sim, aquele mesmo das histórias infantis, de Monteiro Lobato ou de sua vovó querida. Mas, por aqui, em Botucatu, o Saci é muito mais do que um ser imaginário. Para muito botucatuense, o Saci é um amigo.
A cidade do interior de São Paulo localizada na região centro sul do Estado é também conhecida como a capital nacional do Saci. Não à toa! Até criadores de Saci têm por essas bandas.
O município tem aproximadamente 138 mil habitantes, de acordo com o IBGE (dados de 2014). Todo esse crescimento e a urbanização até assustaram o Saci. Mas, pelo que se conta, o engenheiro José Oswaldo Guimarães “importou” dois casais de saci direto de Itajubá (MG) para criá-los nas matas de Botucatu, e pronto, a partir daí, sacis estão sempre se divertindo por entre as ruas da cidade paulista.
Anos atrás foi instituída na cidade a Associação Nacional dos Criadores de Sacis. Sim, vários moradores fazem questão de dizer aos visitantes que criam Saci nas matas de Botucatu. Por quê? Simples, o Saci é defensor das florestas.
Localizada no alto da serra (Cuesta de Botucatu), a cidade apresenta bom clima de brisa constante e traz no próprio nome (que vem de Ibytu-katu, que em tupi significa “bons ares”) a ligação com a natureza. As formações geográficas que circundam a cidade geram lendas como as Três Pedras, Gigante Adormecido e Cuesta e o Morro do Peru, mas essas são histórias que contaremos em outra hora.
Agora, voltando ao Saci. Segundo os criadores, a sensibilidade de quem está procurando por ele é fundamental, pois ele aparece dependendo disso.
A associação reúne os amigos do Saci que cultivam o hábito da contação de histórias. É o resgaste da rotina perdida com a chegada da energia elétrica, da televisão e do computador; sentar em roda com os amigos e vizinhos e contar “causos” por horas. Há algumas histórias, inclusive, que chegam através de depoimentos de quem se deparou com ele pelo meio da cidade. Pois, enquanto esses amigos do Saci vão criando o sapeca nas matas, ele vai também sendo recriado na imaginação das pessoas.
Se vamos buscar pelo Saci também? É claro! Só não tiraremos fotos (dá azar) e nem o entrevistaremos (porque, pelo que dizem, o garoto não gosta de sensacionalismo, prefere brincar de esconde-esconde). Quem sabe ele não aparece na praça durante o Circuito, pra juntar a arte dele com a nossa.
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Texto: Mirele Ribeiro | Fotomontagem: Davison Alvares