A parte do corpo mais importante em uma luta não é nem o pé, nem a cintura nem a mão, mas sim a cabeça. Assim aprendi junto com o menino Pastinha, muito antes dele se tornar um grande mestre de capoeira, em uma das lições ensinadas pelo Mestre Benedito, aqui recontadas pelo Coletivo Quizumba.
A peça fala sobre essa bonita relação de aprendizado e crescimento entre um menino que sempre apanhava do valentão da rua e uma pessoa que decide ajudá-lo não só a se defender, mas a agir com inteligência na vida. A história se completa com pitadas de outras narrativas inspiradas na cultura afro-brasileira.
No canto final da peça Quizumba, fica a deixa para que os atores façam suas homenagens às pessoas que de alguma forma influenciaram para que cada um pudesse vencer adversidades de suas vidas.
“QUEM ME ENSINOU FOI O MESTRE BENEDITO, QUEM ME ENSINOU FOI O MESTRE…”
A cada dia saltam alguns nomes que certamente você também conhece: Dona Ivone Lara, Raquel Trindade, Chico Mendes, Marielle, e… minha avó Ivone. Isso mesmo, dentre as grandes personalidades de conhecimento geral, surge o nome de alguém que permaneceu anônima para qualquer pessoa que não tenha um contato muito próximo com ela. O ator Jefferson Matias reserva este momento para prestar sua homenagem cada vez a uma mulher de sua família.
“Já faz uns dois anos, desde que no Quizomba nós fizemos uma pesquisa sobre a questão da mulher no Brasil e no mundo, que eu comecei a me debruçar nessa questão de como são as mulheres, inclusive as mulheres que fazem parte da minha vida, da minha família. As minhas avós, a minha mãe, a minha tia”, conta.
A homenagem da noite em Atibaia foi para senhora que hoje tem 93 anos e que até o ano passado continuava trabalhando como empregada doméstica. Além de dedicar várias das apresentações à sua avó paterna, Jefferson faz questão de sempre conversar muito com ela nas visitas que faz à sua casa em Piracicaba.
“Hoje eu entendo a luta das minhas duas avós, a minha avó Antônia que é a mãe da minha mãe e da minha avó Ivone, mãe do meu pai. Entendo que a educação que elas puderam dar para os meus pais, que era melhor do que a que elas tiveram, fez com que eles quisessem dar uma educação melhor pra mim e pros meus irmãos. Isso fez com que eu conseguisse estar onde eu estou hoje, seguindo a carreira que eu escolhi ter que é a de ator”.
Assim é feita a evolução, de mestres com generosidade de ensinar pela palavra e pelo exemplo e de gente com humildade para aprender e passar adiante. É ou não é verdade que a cabeça é a parte mais importante de uma luta?
Texto e Fotos: Mariana Krauss