Dia de final do Campeonato Paulista. Dia de colocar a bola pra circular. Uma praça de poucas árvores e muitas casas ao redor. Cinco bares, oito carros com o som alto. Churrasco, calor, cerveja, gente pequena, gente grande.
Chinelo, sem camisa, bicicleta, cachorro, amigos. Variações de musicas pra lá de alegre que fazem o domingo pedir cachimbo.
De manhãzinha o dia já prometia. Enquanto a calçada era varrida chegaram uns caminhões cheios de caixas e gente vestida de amarelo.
– Amarelo é a cor de que time, pai?
– Deve ser algum da terceira divisão.
As portas e janelas se abriram pra revelar um olho só. De vez em quando uma cabeça inteira curiosa e corajosa.
– Que gente estranha é esta?
O Homem Aranha de calça curta soltou da mão do pai e correu. Desviou da tia que voltava da missa, dois colegas que disputavam um drible na quadrinha de areia:
– O que que vai ter aqui, moço?
O moço explicou mas ele não entendeu muita coisa.
Tentou transmitir pro pai as informações meio despedaçadas na sua cabecinha. Na hora do almoço o pai explicou pro tio que em seguida foi dar uma cochilada. Tava preocupado com o jogo de logo mais. Misturou tudo que tinha ouvido num sonho diurno daqueles em que as coisas que não podem ser acabam se tornando. Quando acordou explicou pro vizinho:
– Pra falar a verdade não entendi direito. Mas sei que hoje aqui na praça vai ter uma coisa muito legal.
E teve.
Texto e Foto: Leandro Almeida