Sabe aquelas lendas que chegam a dar um medinho na gente? Então, descobri uma dessas aqui em Ilha Solteira! Diz a lenda urbana da “Velha Barrageira” que parte das terras usadas para a construção da usina hidrelétrica da cidade pertenciam a uma senhora, que não queria sair dali, não. Enfim, ela teria sido remanejada para outro lugar. Outras versões dizem até que ela morreu afogada quando as águas da barragem começaram a subir. Diz a lenda que caminhoneiros que passavam pela cidade davam carona pra “velha”, mas depois ela simplesmente desaparecia da cabine. Eu hein!!
E parece que todo mundo da cidade conhece a história. A Dona Nilza Macedo, prefere não duvidar. Diz a dona de casa que dia desses a “Velha Barrageira” pulou no capô do trator de um homem que estava trabalhando. “O motorista chegou a desmaiar”. Ela disse que acredita. Na cidade o pessoal comenta que tem até foto disso.
“Ela aparece! E ainda na pista, cuidado!”, brincou o Seu Aparecido Delgado, aposentado. Mas ele disse que não acredita na história não. “Se ela aparecesse pra mim, eu dava carona pra ela.”, contou aos risos.
“A lenda é de quando foi feita a usina. Dizem que ela assusta moradores. Acho que toda lenda tem seu fundo de verdade.”, disse Tavinho Lima, compositor e produtor.
A Dona Algenita Pardinho é funcionária pública e trabalha há 22 anos na casa da cultura. Assim que começou a trabalhar, falaram pra ela que a “Velha Barrageira” já tinha sido vista circulando pela casa de cultura, toda de branco. “Ah, não acredito… mas não duvido também. Sempre venho trabalhar sem medo, até no escuro.”, contou.
Bom, é só dar uma volta pela cidade pra saber como o pessoal daqui conhece a tal lenda, que de tão conhecida foi parar na edição de 2019 do Circuito Sesc de Artes, em Ilha Solteira, com o espetáculo “Terra Abaixo, Rio Acima”.
Terra Abaixo, Rio Acima
O espetáculo itinerante, concebido pela Cia. Cênica em 2016, resgata e ressignifica diversas histórias que cercam o período de construção da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira. “Um dos personagens é filho da velha, ele fica todos os dias esperando que ela apareça”, conta a atriz Simone Moerdaui. Além da “Velha Barrageira”, também são contados outros episódios e lendas, como a submersão da cidade de Rubinéia, o exército da força divina e a revolta do “arranca capim”.
Três anos atrás, integrando também o Circuito Sesc de Artes, a Cia. Cênica apresentou na cidade “Virado à Paulista”. Segundo Fagner Rodrigues, diretor da companhia, o processo criativo de “Terra Abaixo, Rio Acima” foi influenciado pelas experiências vivenciadas durante a passagem da companhia por Ilha Solteira. “Na época, estávamos em processo de pesquisa de um novo trabalho. Nossa presença no Circuito influenciou fortemente o resultado de ‘Terra Abaixo, Rio Acima’”, afirma Fagner. Durante a estada, os integrantes da cia tomaram contato com algumas histórias locais, o que resultou em novas visitas à região para uma pesquisa mais aprofundada.
Para o diretor, os desdobramentos do Circuito Sesc de Artes vão além do resultado artístico. “Eu acredito no Circuito como uma ação muito potente para a criação de novos projetos, para troca de linguagens e de possibilidades criativas, mesmo para projetos futuros.”, afirma Fagner Rodrigues.
Texto: Pollyana Moda
Foto: Dani Sandrini