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Ska, punk e rocksteady à brasileira

Conversamos com o músico americanense Álamo Leonardo sobre suas bandas, influenciadas pelo punk e música jamaicana, e a cena musical alternativa na cidade de Americana-SP.

Como você começou a se interessar por música?
Acho que foi inevitável: meu pai era baixista de rock e minha mãe uma grande cantora de MPB, música sertaneja e samba, a Lucinha Alves, que hoje canta na Rede Birosca – casa do cantor “Nelson Gonçalves”. Então desde pequeno frequentei ensaios, shows e atividades relacionadas à música. Sempre amei esse ambiente.

Quais eram suas referências musicais antes de começar a tocar em bandas?
Por influência do meu pai já ouvia “Beatles, Kiss, Alice Cooper, Black Sabbath” etc, e pela minha mãe ouvia “Tião Carreiro, Milionário e José Rico” etc. Já com os amigos, no começo da adolescência, encontrei o punk rock e já me apaixonei de cara. Tinha a impressão de que aquilo era feito pra mim e era o que eu estava a fim de fazer. Logo depois conheci “The Specials” e esse encontro mudou novamente a minha vida. A partir disso entrei cabeça no ska e outros ritmos jamaicanos.

Havia algum lugar na cidade onde era possível ouvir os estilos musicais pelos quais você se interessava?
Logo no começo não. Se quiséssemos ouvir o que gostávamos, tínhamos que fazer nossas próprias festas… Mas poucos anos depois, por volta de 1993, surgiu a “Festa Privada”, que assinalou o auge do rock de Americana. A festa teve várias edições e foi responsável por grande parte das bandas da cidade terem se destacado em Americana e afora, como a “Prole, Maguerbes” e minha ex-banda, a “Rusty Machine”. Nessa festa também tocaram bandas de renome na cena nacional e internacional, como “GBH, Ratos de Porão, Dead Fish, Cólera, Garage Fuzz, Muzzarelas, The Queers e Vibrators”, entre outras.

Atualmente, como está o panorama em Americana e região?
Existem alguns lugares que ainda abrem as portas pra esses estilos, mas não posso dizer que ainda existe uma cena punk ou rude boy por aqui. Temos muitas bandas underground de altíssima qualidade fazendo seus corres e alimentando a cena rock. Americana sempre foi muito forte nisso. Falando da região, em Campinas temos a melhor festa de ska do Brasil, a “Skandalosa”.

Conte-nos um pouco sobre a sua primeira banda em Americana, a Rusty Machine.
Já havia tocado em algumas bandas de São Paulo: uma banda de bailes, com meu pai e seus amigos, e outra de punk rock, chamada “Noiz Treis”. Também toquei na banda de ska “Malelucados” já na mesma época da Rusty Machine. Fui o segundo baixista dessa banda e o convite pra participar veio do grande amigo Dinei, via telefone, quando eu ainda morava nos Estados Unidos.

Essa banda foi maravilhosa na minha vida. Viajamos pelo Brasil e toquei em diversos lugares: dos mais top, como o Circo Voador no Rio de Janeiro, a picos que nunca haviam recebido bandas de rock, no interior do país. A banda passou por várias formações e estilos desde minha entrada, mas o que mais marcou foi a fase ska. Sem falsa modéstia, fizemos muitas pessoas da região tomarem conhecimento desse ritmo e que acabaram montando suas próprias bandas. Isso me faz sentir muito honrado. Respeito muito as pessoas que gostam dos meus trabalhos musicais e sou muito grato a elas.

Quem escrevia as letras e do que elas falavam?
Até minha entrada, que escrevia era o vocalista Tuco. Depois que assumi os vocais, também comecei a compor as músicas e foi assim até o fim. As temáticas eram bem variadas. No começo falávamos das nossas festas e cotidiano, depois começaram a entrar temas sociais e alguns até políticos, porém sempre com bom humor.

Atualmente, quais são seus projetos musicais?
Hoje dedico todas as forças, ou quase, a uma banda com influências da música jamaicana chamada “Stop Four”. Apesar de tocarmos ritmos inspirados em reggae, ska e rocksteady, trazemos pra banda influências culturais da cidade de Americana e do Brasil, como a música sertaneja raiz, por nos inspirarmos bastante na dupla americanense Milionário e José Rico, entre outros.

O Stop Four toca musicas próprias e versões tocadas em ritmos da Jamaica. Gravamos um EP de 6 musicas que pode ser encontrado pra baixar no Facebook da banda e recentemente tivemos a grande honra de gravar uma música, chamada “Mundo Pra Ganhar e Perder”, gravada no estúdio RG e produzida por Guilherme Malosso, com participação do grande ícone do ska Chris Murray, vocalista e guitarrista da banda canadense “King Apparatus”, formada no final da década de 1980 e produtor de várias bandas importantes, como “Slackers” e “Aggrolittes”.

Também toco na banda de punk rock “Ow Shit” com meus grandes amigos Ricardo Francischangeles (Maguerbes) e Rae Nunes, ex-Rusty Machine. Essa banda faz versões de musicas bem variadas e sons próprios, tocados no bom e velho estilo “Ramonão” com rock antigo.

O punk e o ska são dois estilos tipicamente de língua inglesa. Partindo da perspectiva brasileira, de que maneira suas bandas se apropriam desses estilos?
As duas bandas compõem em português e fazemos versões de musicas classicamente brasileiras.
Nossas letras abordam temas que falam de alguma forma do nosso povo e sempre acrescentamos algo nosso nesses ritmos gringos.

E como está a agenda de shows?
O Stop Four deu um tempo nos shows para produzirmos as músicas novas e os clipes. Devemos retornar à estrada no segundo semestre de 2015. Já o Ow Shit tem tocado com regularidade no Estado de São Paulo.

Qual mensagem você gostaria de passar com a sua música?
O bem comum e a alegria das pessoas poderem fazer exatamente o que quiserem e quando quiserem.

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Texto: Fernando Bisan | Foto: Mariana Brustolin