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O dragão que é uma ilha

Que tal imaginarmos uma ilha paradisíaca com as configurações de um dragão alado? Nesta ilha aconteceriam ataques piratas e indígenas que sequestrariam estrangeiros e só não os matariam porque eles chorariam muito, e poderíamos até criar uma indústria que usaria como matéria prima as baleias. Para completar, mandaríamos fabricar uma cidade inteira nos Estados Unidos, que seria montada por trabalhadores portugueses, administrada por italianos, com capital de quatrocentões paulistas… que globalização. Isso não é tudo, poderíamos acrescentar personagens como homens pré-históricos, indígenas antropófagos, jesuítas, muitos presidentes da República, suicídios, pilotos de Fórmula 1, artistas famosos estrangeiros tais como Brigitte Bardot, Glenn Ford, e Kirk Douglas. Faríamos alguns festivais de música, poríamos hotéis luxuosos, casas surpreendentes e algumas favelas para fazer o contraponto. Um enredo de filme? Não. Simplesmente a trajetória da cidade do Guarujá, na Ilha de Santo Amaro.

A história do Guarujá está presente em grandes momentos da História do Brasil de modo intenso. Na fase colonial, com a própria chegada de Martim Afonso de Souza, com personagens como Anchieta e Hans Staden, o náufrago alemão que caiu nas mãos dos índios tupinambás e de volta à Europa escreveu um livro, em 1557, na Alemanha, com a descrição das plantas e animais, usos e costumes dos habitantes e da terra. Desse modo, os europeus tiveram ideia do nosso país tropical.

Na fase imperial, com o comércio de escravos que aqui se fazia e com a Armação das Baleias, importante marco econômico nos séculos XVIII e XIX, primeira indústria extrativa que funcionou na Ilha de Santo Amaro. Já no final do século XIX, com o Grande Hotel La Plage e o Cassino, que faziam parte de um ousado projeto turístico composto não só das edificações como também da linha férrea, de lanchas para a travessia do estuário de Santos, de dois parques, incluindo zoológico, piscina e belvederes. A cidade é sui generis em sua concepção e criação, visto ter sido pré-construída em madeira nobre nos Estados Unidos e aqui montada, com o hotel, o cassino, quarenta e seis chalés e igreja, entre outras coisas. A importância do cassino e do Grande Hotel La Plage no destino da cidade foi tamanha que determinou a sua trajetória. O fato do suicídio de Santos Dumont ter ocorrido nas dependências do Grande Hotel foi fundamental para que as lembranças sobre ele não se esvaíssem.

Com o boom imobiliário da década de setenta, houve um grande afluxo de trabalhadores atraídos pelas facilidades de colocação na construção civil. A migração, principalmente de nordestinos em busca de trabalho, fez com que o número de favelas em regiões como encostas de morros, manguezais e áreas periféricas aumentasse em demasia, o que ocasionou problemas ecológicos. Esse é o Guarujá, com seu encanto e contrastes.
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Fotos: Angelita Borges | Texto: Angela Omati Aguiar Vaz, mestre em Educação, professora e coordenadora do curso de História da Faculdade Don Domênico.

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