Foi na sala de sua casa que me recebeu, acompanhado de sua esposa e filha. A voz gentil e o sorriso doce combinaram bem com o começo da conversa. “Sou filho de lua de mel, por isso sou doce”. O senhor de 83 anos que acaricia o braço da poltrona enquanto conta sua história tem nos olhos uma mistura de sabedoria e inocência que traduzem bem seus caminhos pela vida.
Duilio Galli cresceu no interior e carregou a paixão por Ibitinga por onde foi. “Aqui a gente brincava na rua, éramos todos uma grande família”. Na adolescência foi para São Paulo e de lá ganhou o mundo. Amigo e aluno de Tarsila do Amaral, ganhou destaque no mundo das artes. Criou junto a outros artistas o encontro semanal da arte na Praça da República em São Paulo, que acontece até hoje. Participou de exposições no Brasil e no exterior e criou polêmica com suas obras na Bienal de São Paulo em 1977. Em plena ditadura militar expôs peças criadas a partir de lixo numa crítica ao tipo de vida que se desenvolvia nas cidades grandes. Uma das peças, um vaso sanitário, chegou a ser coberto durante a visita do Presidente da República. Quem visita Ibitinga hoje pode ver suas obras por diversos pontos da cidade, inclusive uma Via Sacra na igreja matriz.
Foi corredor de motocicletas e entre as diversas competições que venceu está a primeira corrida transmitida ao vivo na televisão brasileira. Publicou 3 livros com contos e poesias. Hoje se diz aposentado e deixou a cidade grande para voltar para Ibitinga. “E artista se aposenta?”, indago. Logo descubro que isso está longe de acontecer. Galli é vídeo-repórter e documenta fatos e acontecimentos da cidade – uma de suas reportagens mais populares mostra uma jibóia engolindo um gavião! – Recebe em sua casa grupos de crianças e jovens para ver suas obras e obras de artistas amigos que guarda em sua coleção e falar sobre arte. Sonha em um dia ter seu próprio museu.
Mas tem alguma coisa que Duilio não saiba fazer? “Ah, eu não me entendo muito bem com a tecnologia”. Estava sendo modesto. Duilio tem atualmente dois canais no Youtube, somando mais de 350 mil visualizações de seus vídeos.
“Essa é a minha vidinha”, diz encerrando a conversa com o mesmo sorriso doce que a iniciou. E o que fica no ar é a sensação de que ainda havia muita história para contar.
__
Texto e Foto: Juliana Ramos