– Fia, não sou bão pra isso. O meu trabalho é esse aqui ô, passear com as crianças pela praça, faço isso há muito tempo. Assim garanto o meu sustento e ocupo a cabeça, afinal cabeça vazia é morada para o coisa ruim.
Seu João não possui documentos de identificação, mora em uma casinha simples na cidade de Itapeva com seu vira-lata Rex, fiel companheiro dos últimos oito anos.
– As mães trazem seus fios para passear nesse carrinho, tiram fotos com celular e as crianças gostam muito, dou volta na praça toda e tem muita criança que quando termina não qué sai daqui, não! Abre o maior berreiro (risada).
Há mais de 20 anos, Seu João, trabalha na Praça Anchieta, em frente à Catedral Sant´Ana, que além de ser um monumento religioso é também considerado um prédio cultural e turístico de Itapeva.
A construção da Catedral de Sant’Ana foi iniciada em “taipa de pilão” (técnica que consiste em prensar o barro) por cerca de 40 escravos , no ano de 1785, e possuía características arquitetônicas coloniais. A partir de 1844, foi ampliada pelos padres capuchinhos e passou por três grandes reformas que agregaram características neoclássicas e as duas torres laterais. Entre os anos de 1986 e 1992, a edificação foi restaurada pelo artista sacro Claudio Pastro, que recuperou suas características coloniais. Na igreja, ainda encontram-se a imagem original de Nossa Senhora de Santana, talhada em pinho de Riga, vinda de Hamburgo (Alemanha), bem como o órgão de tubos e o relógio Collins S. de Wagner Horlorger trazido de Paris (França). Também é possível contemplar um painel pintado atrás do altar da igreja, em que foi recriada toda a história da criação de Itapeva, desde a chegada dos colonizadores até a fundação da Vila de Faxina.
Enquanto conversávamos com o senhor João, dois irmãos sentaram-se no carrinho e pediram para dar voltas pela praça.
– Agora ocê me dá licença que preciso garantir o pão de hoje, disse seu João.
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Texto e foto: Indiara Duarte