Quase tudo acontece na Rua São Pedro: as grandes e pequenas lojas, os bancos, os restaurantes, o trânsito. Ao longe escuto várias vozes e ao chegar a Praça São Pedro, encontro mais de uma dezena de senhores jogando truco nas mesinhas da praça.
Em uma das mesas, havia três senhores que me chamaram a atenção pela conversa enquanto jogavam:
– Zé, lembra que todo mundo plantava feijão? O doutô, o padre, todos queriam ter uma rocinha, lembra que o preço era bom? Tinha sujeito que até comprava trator sem precisar.
– Se lembro, Jão, lá pelas quatro da manhã já não se podia dormir, os caminhões passavam pulando nos paralelepípedos e ali na esquina da São Pedro com a Primeiro de Maio, o povo vendia o que tinha colhido e os caminhões saiam lotados.
Na década de 1960, as terras eram baratas e não estavam desgastadas, ainda predominavam as florestas e os campos, era um lugar ideal para a lavoura do feijão. Outra vantagem era a proximidade com o mercado, ligada pelas estradas tanto a São Paulo quanto a Curitiba.
E assim entre uma jogada e outra, os senhores lembraram-se da Itararé dos anos 1970, época em que a cidade ficou conhecida como a “capital do feijão”.
Corta, é sua vez! – disse o outro senhor que tinha acabado de embaralhar as cartas. Bons tempos aqueles, o preço do feijão era tão bão, que não se plantava nada mais, nem milho, o que a gente precisava comprava aqui na cidade, no cerealista.
Porém, em 1991, Itararé passa pela crise na produção do feijão, devido à descapitalização das safras anteriores, crédito rural insuficiente e a queda no preço do mercado.
De repente, seu João grita:
– Seis!
– Truco, marreco! – responde o outro senhor que não sabemos o nome.
– Ah seu fio da mãe (sic), ganhou mais uma! – exclama o seu Zé.
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Texto e foto: Indiara Duarte