Tudo acontece na Praça João Mariano de Freitas. O ambiente arborizado, os jardins bem cuidados, as mesas para jogos e o parque infantil formam um conjunto de lazer convidativo, amplamente utilizado pela população de Jales. A qualquer momento do dia é possível flagrar o encontro de jovens, adultos, idosos e crianças, aproveitando as frondosas sombras do lugar para tomar um sorvete, jogar um carteado ou mesmo desperdiçar algumas horas numa boa prosa.
Há algum tempo atrás, este mesmo local tinha outro atrativo. Durante quase 50 anos, jacarés, jabutis e cágados foram criados em um tanque situado bem ali, em plena zona urbana da cidade. Por esse motivo, a Praça João Mariano de Freitas recebeu o título popular de Praça do Jacaré, apelido pelo qual é conhecida até hoje.
“Tá vendo aquele jardim ali, onde tem um monumento? Ali ficava o tanque. Eram dois ou três jacarés, pelo que eu me lembro. Depois ficou um só. E tinha os cágados também” – aponta o Seu Dirceu, frequentador assíduo das jogatinas que acontecem no local. Seu Dirceu não nasceu em Jales, mas, como ele mesmo diz, mora na cidade “há muitos janeiros”. Ele conta que vinha gente do estado todo para conhecer a praça e seus peculiares habitantes – “Tinha também uma ponte, que passava por cima do tanque. A meninada fazia uma festa” – relembra.
Alguns dizem que os jacarés vieram dos rios das proximidades, outros que foram “encomendados” pela administração municipal da época. O fato é que ninguém pode afirmar com certeza a procedência dos répteis. Todos, porém, sabem exatamente que fim eles levaram.
Em 2009, a Policial Ambiental recebeu uma denúncia anônima que acusava maus tratos aos bichos. Na época, a imprensa local publicou depoimentos de frequentadores dizendo que os animais passavam fome e que eram vítimas de vândalos que lhes atiravam pedras ou lhes davam restos de sanduíches. A prefeitura negou veemente a acusação, mas, após análises aprofundadas, o IBAMA apurou falta de cálcio na água e forte índice de stress por conta da observação prolongada. Estes fatores determinaram a retirada imediata dos animais.
No dia 3 de dezembro de 2009, foram retirados do tanque um jacaré, 22 jabutis e 23 cágados, transferidos posteriormente ao zoológico de Araçatuba. A operação foi realizada pela Polícia Ambiental com a ajuda do Corpo de Bombeiros e de funcionários da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente.
A determinação não abalou a população local.“A gente já sabia que um dia ia acontecer. Praça não é lugar de bicho desse tipo. Até que durou bastante tempo” – comenta o Seu Dirceu.
Curiosamente, no local do tanque do jacaré foi construído um monumento que em nada recorda a existência dos ilustres ex-moradores da praça, tampouco faz referência ao nome pela qual ela é popularmente conhecida. A tarefa de manter a história do lugar viva fica a cargo da tradição oral, da história contada por quem a vivenciou. Neste quesito, a população jalesense cumpre bem o seu papel, respondendo de prontidão a unânime pergunta dos forasteiros: “Por que é que essa praça se chama Praça do Jacaré?”.
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Texto: Jeff Santaniello | Foto: Divulgação