“Um dia todos terão seus 15 minutos de fama”. A frase dita por Andy Warhol na década de 60 nunca esteve tão certa. Atualmente todos buscam seu lugarzinho na lembrança das pessoas, mesmo que uma curta lembrança. Qualquer tombo filmado pode te tornar famoso da noite para o dia, qualquer semana participando de um reality show e pronto! Autógrafos na rua.
Mas muito antes de Warhol, Miguel Pacífico não queria apenas 15 minutos de reconhecimento, queria uma eternidade! Mas como conseguir isso na Jaú de 1905?
O italiano e cidadão jauense, era músico e carpinteiro. Tocava todo domingo entre as ruas Saldanha Marinho e Marechal Bittencourt. Entretanto aquilo não era suficiente para acalmar seu ímpito de grandeza. Um belo dia, com muito custo, trouxe em cima de um carro de boi, uma tora de Cabreúva – árvore resistente que pode chegar até 30 metros de altura – e resolveu esculpir a própria imagem.
Miguel deve ter pensado que agora não tinha jeito! Quem não iria dar valor para uma estátua feita de madeira e em tamanho natural? Mas os governantes da época não pensavam bem assim e se recusaram a colocar tal imagem em qualquer pedaço de terra público de Jaú.
Já deu para perceber que o nosso ítalo-jauense não iria se dar por vencido. Determinado, comprou um pedaço de terra e ali encontrou o lugar para aconchegar sua maior criação. Finalmente estava feliz. Entretanto, ele não estava mais entre os vivos quando a fama de santo lhe foi atribuída, talvez tenha sido melhor.
Homem que nunca foi adepto à libertinagens, não iria querer acompanhar a transformação em volta do seu monumento. As autoridades locais haviam liberado o local para prostituição. Sua imagem agora estava associada, para os mais jovens e desavisados, a baderna e bebedeira. Vez outra, a Cabreúba personificada, era alvejada por tiros de carabina. Porém, madeira forte, nunca permitiu tamanha heresia. A imagem de Miguel Pacífico permanecia intacta.
Talvez a partir daí tenha surgido a reviravolta, sua imagem passaria a ser idolatrada como um santo protetor pelas messalinas brancas e como um membro do candomblé pelas negras.
Hoje sua imagem descansa merecidamente no museu da cidade e de uma forma ou de outra, finalmente o músico/carpinteiro agora é reconhecido. Tardou, mas finalmente a fama de Miguel Pacífico ultrapassou os 15 minutos célebres de Andy Wharhol e já desfruta de uma pequena eternidade dentro do museu de Jaú.
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Texto e foto: Danilo Silva