Em meio às bicicletas que a todo tempo cruzam o caminho de quem visita a cidade, detalhes transparecem as marcas que o passado deixou na cidade de Lorena. “Todo lugar tem uma história!”, exclamou o jovem recepcionista do hotel na região central da cidade, ao contar que o estabelecimento, como muitos outros imóveis da cidade, foi construído no terreno onde ficava um casarão da época imperial. Esta é uma das histórias da cidade, que somada às inúmeras outras que cada um dos moradores nativos ou vindos de outras cidades podem contar, vão formando as identidades do local.
Caminhando pelas ruas calçadas por paralelepípedos, ou cruzando a Rua das Palmeiras é fácil se deparar com lojas, restaurantes ou residências que não demoliram o passado, apenas adaptaram os prédios às novas necessidades. O reflexo do apogeu da cidade no Brasil Imperial está por toda a parte.
A poucos minutos da área urbana, resistem fazendas que vencem a força do tempo pelo esforço de pessoas como Mauro Villela Nunes, que no desejo de preservar a própria origem acabam ajudando a manter viva a memória da cidade. E aqui começa mais uma das histórias que a cidade tem para contar.
Mauro herdou a Fazenda Amarela de seus pais, que por sua vez a receberam dos avós. “Aqui foi a primeira sede do exército no Vale do Paraíba, em 1902”, conta. A Fazenda foi construída pelo Barão da Bocaina e na época da queda do café os avós paternos de Mauro compraram e assumiram a propriedade.
Ele conta sobre o sonho que tem de transformar o lugar em um espaço cultural e convida a conhecer o casarão por dentro. São reveladas mais peculiaridades. Como se fossem papéis de parede, cada um dos cômodos exibe pinturas originais da época da construção. Flores, traçados coloridos, diferentes adornos ornamentam o ambiente sem se repetirem em nenhum dos quartos e salas da casa.
As paredes também servem de suporte para fotos e quadros que retratam a Fazenda em diferentes épocas. As imagens são organizadas com dedicação por Mauro, que não se cansa de pesquisar referências sobre o lugar nos arquivos familiares ou nos livros que contam a história da região.
Entre cômodas, poltronas, cortinas e detalhes da alvenaria da casa, ele mostra seu mais recente projeto de restauração: um telefone antigo que pretende colocar em funcionamento com a ajuda de um primo. “Eu quero que quando ligarem aqui para casa, eu possa atender neste telefone”, conta Mauro. Se o velho telefone tocar, que Mauro possa contar suas histórias da fazenda e ouvir tantas outras que permeiam a cidade!
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Texto e Foto: Mariana Krauss