Lucélia já foi terrível. Hoje é a típica cidade do interior paulista que desfruta da tranquilidade de seus cerca de 20 mil habitantes. Nasceu em função da ferrovia, tem a praça da Igreja Matriz e outras coisas mais que lhe garantem o caráter e as qualidades de município interiorano. Mas, nem sempre foi assim. Por essas terras já habitaram criaturas apavorantes há milhões de anos: os dinossauros, cujo nome tem origem grega e significa “lagarto terrível”.
Lucélia já foi terrível, mas hoje isso é motivo de orgulho porque um professor e um grupo de estudantes transformaram essa história que poderia estar perdida em um processo pedagógico para formação de alunos e num acervo incrível de fósseis expostos na Escola Estadual José Firpo.
O Grupo de Ciências Luckesi surgiu no colégio em 2000, com o objetivo de inspirar os alunos a compreenderem os processos das aulas, deixando a famosa “decoreba” de lado. A proposta era ter aulas mais didáticas, por meio de excursões, experimentos científicos e transformar os próprios alunos em agentes da educação, de modo que fossem monitores dos mais novos.
Em 2003, a turma vivenciou o que viria a ser o carro-chefe do grupo de ciências: encontraram seu primeiro fóssil em uma expedição. “Foi incrível, a molecada ficou alvoraçada. Depois desse ganhamos outros mais antigos de pessoas que cavam poço na região, acham e nos dão. A gente encontra e recebe outras doações também, e aí vai incentivando”, conta o professor Paulo Sérgio Fiorato, fundador do grupo.
Aí surgiu, então, o Projeto Dino, que invariavelmente leva os jovens do Grupo de Ciências Luckesi a campo em busca de novos fósseis. E muitos já foram encontrados. Isso porque a região de Lucélia é rica em achados arqueológicos.
O município foi fundado em junho de 1944, portanto está prestes a completar 70 anos, e sua história oficial dá conta que em 1945 o geólogo francês Pierre Monbeing passou pela cidade e registrou em seus relatos, enviados posteriormente para a França, o esplendor do local – que da floresta fazia brotar uma cidade em terra que já fora habitada por dinossauros e homens pré-históricos.
Hoje, o grupo de ciências comprova isso com um acervo contendo diversos itens paleontológicos, desde ossos e dentes de dinossauros e outros animais pré-históricos até rochas sedimentares. Veja na galeria de fotos abaixo.
Uma das maiores descobertas refere-se a um Abelissauro, espécie que segundo estudiosos tinha em média 2 metros de altura, 7 metros de comprimento e poderia pesar até 1,5 tonelada. Dele, foram encontradas uma escápula, uma clavícula, três costelas, um úmero e alguns dentes, todos próximos.
“Nessa região que segue a linha do trem, que pega Lucélia, Adamantina, Flórida Paulista, Pacaembu, Irapuru, desde a década de 1950, quando estava sendo construída a linha férrea, o pessoal encontrou alguns fósseis. A gente começou a sair a campo com base nisso”, lembra o professor Fiorato.
Entretanto, foi necessário um acordo para manter os achados em Lucélia, já que muitas universidades levavam os materiais embora. “Pelo histórico, quando encontrávamos um fóssil ou outro por aqui ficávamos com medo de entrar em contato com uma universidade e eles levarem embora. Aí conseguimos um paleontólogo, via um ex-aluno da escola, que tem nos ajudado por meio de um termo de cooperação”, explica o líder do grupo, referindo-se ao professor doutor José Reinaldo Bertini, da Unesp de Rio Claro, que é quem dá toda a assessoria na parte técnica, desde o achado, via prospecção, até na restauração e preparação para exibição.
Está marcada para 27 de abril a próxima expedição do Projeto Dino, do Grupo Ciência Luckesi. “Vamos com cerca de 30 moleques em busca de fósseis em Flórida Paulista. É um domingo, mas eles nem se importam porque gostam”, afirma o professor Fiorato.
Essa é Lucélia, uma cidade construída sobre os dinossauros e que também é destaque quando falamos sobre dinossauros.