Mauá não tem esse nome à toa! Foi em tempos passados sede do grande império capitalista Barão de Mauá, que deu origem ao nome do município. Mauá, em tupi guarani significa elevado, o que se entende como cidade elevada. Em 1882, o Barão de Mauá adquiriu uma fazenda na localidade, para acompanhar as obras de construção da ferrovia que atravessaria a Serra do Mar. A região já atraía interesses, no entanto, o impulso veio com a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, em 1887. A cidade já foi capital nacional da porcelana, com inúmeras indústrias cerâmicas e olarias e ainda abriga uma dos maiores parques industriais do país, o Polo Petroquímico do Capuava.
Mas o que restou desse império?
O intenso comércio local, o setor de serviços e a presença de importantes empresas, fazem do município uma interessante opção para investimento. No entanto, a região enfrenta sérios problemas sociais, causados, principalmente, pela ocupação desordenada, falta de planejamento urbano e ausência de investimentos em infraestrutura. A administração municipal têm incentivado a educação e formação da mão de obra, parcerias com empresas e sociedade civil e buscado a instalação de novos empreendimentos. Quem passa por lá percebe logo que a cidade precisa de socorro e que cada um se vira como pode. Na praça 22 de setembro, por exemplo, encontramos de tudo um pouco, e é ali bem próximo a saída da estação de trem Mauá, que avistamos uma tenda rodeada de curiosos.
A grande barraca localizado bem no meio da praça do centro comercial da cidade, apresenta muitos sacos espalhados pelo chão, com muitas ervas medicinais e várias garrafas pet completadas com uma espécie de chá. Ao centro, o assim chamado “Raizeiro” (como é popularmente conhecido a profissão), cujo nome é Manoel Carvalho. Ele tem 80 anos e com muita vitalidade e disposição diz: “Essa é a farmácia natural, a farmácia de Deus”.
Com mais de 60 anos de profissão recomenda “garrafadas” para os mais diversos problemas de saúde! Junto com seu parceiro, o Cacique Aruanã de 40 anos, conhecido em Mauá por Índio. É isso mesmo! Um índio de verdade, mas que já foi engolido pela vida na cidade. Veio da tribo Pereiro, lá de Pernambuco e reside em Mauá há mais de 10 anos. Ambos garantem que os chás fazem sucesso. Estão tão certos de seus produtos que reforçam as indicações e recomendações feitas por seus clientes. A satisfação deles é o seu maior marketing. Precisa mais do que isso?!
A parceria com a tenda já dura quatro anos, trabalham de segunda a sexta, das 8h as 18h, ali mesmo, no meio da praça – faça chuva ou faça sol. Na barraca, os companheiros utilizam dois tipos de microfone, um tradicional e outro de lapela para chamar a freguesia e explicar o significado de cada erva. Assim todos tem a oportunidade de ouvi-los e eles podem se movimentar e chamar as pessoas para que conheçam de perto seus produtos.
“Daqui que tiramos o sustento de nossas famílias e eu ainda deixo viva as raízes indígenas” diz Aruanã e elogia muito seu parceiro: “Ele é nosso Pajé branco.”
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Texto: Fabíola Tavares | Foto: Luiz Oliani