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O elado que deu certo

Quando pequeno, o morador de Mogi das Cruzes Luiz Carlos da Cruz tinha um cabelo engraçado. Apesar dos esforços da sua mãe, que, ao penteá-lo, tentava fixá-lo em sua cabeça, alguns fios teimavam em ficar espetados. Nem banha de porco e meia-calça na cabeça seguravam os teimosos fios.

Ele e os amigos sempre jogavam bolinha de gude e futebol perto da barbearia do seu Antônio “Mauricião”, pai do cartunista Mauricio de Sousa. E foi observando o menino que tinha cabelo parecido com o alto de uma cebola e que ao falar trocava o “r” pelo “l”, o filho do barbeiro, já astuto e perspicaz, começou a chamá-lo de “Cebolinha”.

Ali mesmo criavam-se dois outros personagens: um garoto que não gostava de tomar banho após jogar futebol na terra vermelha inspirou o personagem Cascão, que na época tinha os cabelos encaracolados e da cor castanho, diferente dos gibis de hoje que aparece de cabelo preto. Daquela turma nascia também Horácio, personalidade de Timinho somado ao nome de um professor da escola Instituto Dona Placidida.

Seu Luiz não tem mais contato com os personagens, antigos amigos. Ele conta que a última vez que falou com o cartunista foi ao telefone. “O Mauricio estava perdido e precisava chegar até aqui em Mogi e não sabia qual estrada pegar. Por causa disso, ele ligou para mim, tentei explicar mas confesso que não consegui explicar direito, pois ainda tenho a língua um pouco presa, mas só troco o ‘r’ pelo ‘l’ quando fico nervoso e, às vezes, nesse caso – fiquei um tanto nervoso pela ligação inesperada”, diz, aos risos.

Outros amigos e familiares de Mauricio de Sousa serviram de inspiração para criar novos personagens, mas Cebolinha, ficou grande parte do tempo como personagem principal e até ganhou uma nova família nos gibis, pois “Dona Cebola” e “Seu Cebolácio Cogumélio” não foram influenciados pelos familiares do seu Luiz Carlos.

Seu Luiz conta também que na época era feio ter apelido. Quem era apelidado tomava bronca em casa dos pais e “cascudo” na rua, mas o apelido e suas características acabaram servindo de inspiração para a criação do personagem. Até hoje é chamado de Seu Cebola em Mogi das Cruzes, ninguém o reconhece pelo nome de batismo. A única pessoa que ainda o chamava de Luiz era sua mãe.

Aos 67 ele não fala mais “elado” e nem os cabelos são mais arrepiados. Mas hoje o senhor de cabeça meio calva continua sendo conhecido pelo apelido que, nos gibis, o tornou famoso. Luiz Carlos da Cruz diz sentir muito orgulho da homenagem feita pelo cartunista Mauricio de Sousa e, se depender dele, o apelido não deve “morrer”. Em São Sebastião vive seu filho, que, assim como o pai, tem o mesmo apelido. “Se você chegar em São Sebastião e procurar por Carlos ou Luiz, que é o nome do meu filho, ninguém conhece. Mas se perguntar pelo Cebolinha, todo mundo sabe quem é. Minha maior alegria é essa. Se eu morrer agora, meu filho vai manter esse apelido por um bom tempo, espero que também passe por gerações e gerações.”

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Texto: Guilherme Luiz de Carvalho Souza | Foto: Carolina Paes

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