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O homem do navio

Animais empalhados, répteis no formol, múmias, objetos indígenas e tudo isso dentro de um “navio” a mais de 200 km de distância do litoral. Este poderia ser um cenário de um blockbuster norte-americano qualquer, mas, na verdade, é parte da história guaçuana.

Pois é, na antiga rota dos bandeirantes talvez não tenham existido múmias, mas a avidez por lembranças do “homem do navio” dá espaço não somente para memórias de sua cidade e antepassados.

História vista e contada por meio dos olhos de José Edson Franco de Godoy, 74 anos, tataraneto de um dos fundadores da cidade, que recebe a todos com extrema simpatia e um brilho no olhar que nos faz viajar no tempo por meio de suas palavras.

Agora vamos voltar um pouco no nosso texto. Sim! Em Mogi Guaçu existe um “navio” com tudo isso dentro e foi idealizado pelo nosso anfitrião a mais ou menos 30 anos. Durante a construção da sua casa acabou descobrindo um grande sítio arqueológico. A partir daí começou a sua “coleção”, com as primeiras cerâmicas produzidas na região, registros e materiais dos primeiros habitantes tupis-guaranis e diversos outros objetos, recebidos por meio de doações. Assim surgiu o sonho de construir o seu próprio museu.

Mas por que em forma de navio? Pergunte para o Sr. Edson e ele terá a resposta na ponta da língua: As crianças me encontram na rua e falam: “Olha lá o homem do navio!”. Se eu tivesse feito um museu comum ninguém iria lembrar, diz com a propriedade de quem escreve para um jornal local, já recebeu a medalha do Mérito Cívico pelos serviços prestados à comunidade e tornou-se um pesquisador autodidata de várias aldeias – “modéstia à parte”, como sempre repete.

A cerca de 8 quilômetros do centro, na estrada que dá acesso para o bairro chamado Roseira, chegamos à inusitada construção. “Sejam bem-vindos ao Museu Histórico, Pedagógico, Arqueológico e Etnológico Franco de Godoy”. Apesar de ter sido inaugurado em 2004, o local ainda é desconhecido por parte dos guaçuanos. Hoje acontecem somente visitas agendadas. “Fiquei em depressão quando vi que não estava mais tendo apoio. Antes eu vinha aqui todos os dias, agora eu só venho quando tem alguma escola agendada”. Enquanto fala, apresenta o espaço com almofadas no chão e quadros com motivações indígenas especialmente preparado para receber as crianças durante suas palestras.

Apesar das dificuldade, o “homem do navio” segue com sua embarcação e quem quiser subir a bordo saberá muito mais sobre a antiga rota dos bandeirantes, o Grande Rio Que Serpenteia, a ex Capital da Cerâmica ou, como conhecemos hoje, Mogi Guaçu.

João Franco de Godoy teria orgulho de seu tataraneto.

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Texto e foto: Danilo Lima da Silva

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