Ele tem toda uma cara de holandês. Mas, na verdade, é obra de um português. Alto e ao alto, pode ser visto de longe. Aliás, foi feito para se olhar ao longe, ao horizonte. Apesar de parecer uma charada, essa é apenas uma descrição sem muita poesia do mirante que fica no quintal do palácio de um dos fundadores de Presidente Venceslau.
Sem muita poesia, porque é difícil laurear palavras para descrever o monumento que foi construído em 1927 pelo engenheiro português Álvaro Coelho com quatro andares feitos com tijolinhos à vista e telhado em madeira, com uma estrutura reforçada com laje à base de concreto e trilhos de trem – isso mesmo, as vigas das lajes são trilhos de trem!
Coelho veio para o Brasil para vender terras por meio de uma empresa que possuía. Chegou ao Oeste Paulista e ao local que ainda nem era Presidente Venceslau – tinha alguns desbravadores e muitos índios. Comprou uma grande fazenda, construiu uma sede luxuosa e, ao lado dela, ergueu o tal mirante de onde podia ver o horizonte de suas terras e se prevenir de possíveis invasões indígenas e de “concorrentes” nos negócios.
Por muito tempo, apesar de útil na segurança das terras, o mirante, de arquitetura extremamente inovadora aos padrões brasileiros da época, ainda mais por esse quinhão do Estado, serviu de decoração à sede da fazenda, que por sua vez ficou conhecida como Palácio do Álvaro Coelho ao receber grandes jantares da alta sociedade, sendo visitado por políticos brasileiros e até do exterior, a exemplo de um ministro da Húngaro, que por lá passou.
Álvaro Coelho se transformou no primeiro prefeito que o então criado município de Presidente Venceslau teve. O vilarejo, portanto, crescia. Ele vendia as terras e diminuía a fazenda. Mas o mirante continuava a ser atração aos olhares curiosos de moradores e visitantes.
Depois que Coelho morreu, o terreno com a casa e o mirante ficou para os herdeiros, que usufruíram e, posteriormente, pensaram em lotear a área e transformá-la num condomínio. Mas, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) tombou o local, o que impediu qualquer modificação em sua estrutura.
Diante disso, em 2011, a família vendeu a área de 900 metros quadrados, com a casa e o mirante, para o Instituto Preserva, que já iniciou a restauração do palácio e da torre e pretende transformá-los em espaço cultural.
A ideia é que a casa abrigue exposições e instalações de arte, seja palco de teatro e outras linguagens, assim como o gramado da extensa área externa, que também deve ser usado em função da arte.
O mirante, no projeto existente, pode ter em seu primeiro andar um café cultural, um lounge para exposições no segundo, espaço para reuniões e oficinas no terceiro, e o “terraço” para continuar sendo o que sempre foi: o lugar para se olhar a cidade ao longe, com a privilegiada vista de se estar ao alto de Presidente Venceslau.
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Texto e Foto: Thiago Ferri