Rio Grande da Serra é uma cidade pacata e pequena, caminho para a vila turística de Paranapiacaba. Os forasteiros logo se espantam com a ausência de semáforos e com a quantidade de cachorros nas ruas da cidade. E é numa dessas ruas que Seu Divino toca seu negócio: uma banca (de jornal) que vende discos em vinil.
Ele conta que durante muito tempo vendeu jornais e revistas, quando a banca ficava na maior parte do tempo sob responsabilidade de sua esposa, enquanto ele trabalhava em uma outra empresa. Ao se aposentar, resolveu abandonar o negócio e, em conversa com um amigo colecionador de vinil, despertou o interesse na área. Devolveu todas as publicações e começou a adquirir uma vasta coleção de títulos, que disponibiliza, desde 2002, aos interessados nos discos.
Seu Divino é muito conhecido na cidade e estar no centro facilita seu contato com as pessoas: muitos cumprimentos, bate-papos e olhares curiosos sobre as novidades que ele garimpa em diversos sebos da capital e do ABC paulista. Mas é no domingo, seu dia de folga semanal, que ele se dedica exclusivamente à sua paixão: senta no sofá e escuta sua coleção de bolachas no sossego de sua casa.
Entre um morador e outro, que passa para jogar conversa fora com Seu Divino, eu pesquiso os muitos álbuns que ele vende e encontro um que há tempos procurava. Aproveito, ainda, para entrar na conversa deles sobre futebol e ficamos os três, divagando e rindo em meio à neblina sempre presente da cidade.
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Texto e foto: Thais Amendola