Pensa num quintal que mete medo. São dez mil metros de terreiro, muitas árvores e um palacete da década de 30 que inclui uma casa, um salão de jogos, casa de funcionários, garagem e lavanderia. Ah, claro, e o falecido dono está enterrado ali.
Foi em volta desse cenário que cresceu o município de Tupã, já que a casa em questão é do fundador da cidade, Luiz de Souza Leão.
O pernambucano chegou nas terras de nome indígena na década de 1920 e viu ali a chance de realizar o sonho de “criar” uma cidade. Comprou a fazenda, loteou e separou duas glebas, uma para ser a praça (hoje da Bandeira) e outra, de 100 metros por 100 metros, para construir sua casa.
Inteligente que era, decidiu logo fazer um palácio no meio da floresta. Isso para que as pessoas não duvidassem da sua idoneidade na venda dos lotes. Para não acharem que iria pegar o dinheiro e sumir. Queria mostrar que tinha escolhido aquele lugar para viver.
Em 1933, finalizou a casa, assistiu ao sucesso da venda de lotes e viu seu sonho se realizar quando Tupã tornou-se município em 1938.
De novo ele pensou à frente. Dezesseis anos antes de morrer firmou um acordo com a Prefeitura Municipal estabelecendo que doaria a área toda, com sua casa e os móveis, com a condição que o município transformasse e mantivesse o local como museu. Mas tinha outra condição: ele teria de ser enterrado ali, no quintal, entre as árvores. Feito!
Ainda alguns anos antes de morrer, encomendou o próprio busto que demarcaria sua lápide para não correr o risco de ficar eternamente “feio” no monumento.
Pois em 21 de setembro 1980 ele morreu. No outro dia foi sepultado no quintal. A família deixou a casa e o local virou o tal museu do fundador da cidade. Lindo, aliás. Chamado de Solar Luiz de Souza Leão, tem toda a mobília original da casa – com algumas restaurações, óbvio. Tem também roupas, fotos, azulejo português e muitos detalhes da época em que o fundador de tupã lá viveu.
Só que com o desbravador enterrado no quintal também vieram os mitos. Um deles foi logo no início, quando várias pessoas começaram a aparecer no local dizendo que estavam lá para cortar unhas e cabelo do defunto. Sabe-se lá por que espalhou-se o boato que os administradores do local queriam aparar os “restos” mas tinham medo, por isso ofereciam muito dinheiro. Nada disso…
Outro mito é que ele foi enterrado de pé. Besteira também. Mas essa lenda persiste até hoje e há motivo. Luiz de Souza Leão costumava repetir: “Pernambucano de fibra como eu, nem depois de morto deita”. E o povo ficou com isso na cabeça.
As pessoas até hoje têm receio de passar pelas calçadas que rodeiam o terreno. E vez ou outra algum sujeito refuga na passada quando vê um vulto no muro. Mas é só o Seu Luiz vendo o movimento da rua. Ele trabalha administrando o local há mais de 30 anos, desde sua transformação em museu. E foi ele quem nos contou o causo todo…
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Texto: Thiago Ferri