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Porque lembrar é viver – o cinema na cidade dos três “s”

Na década de 20, o cinema encantou os assisenses, que se aglomeravam em filas para assistir às sessões de filmes. Era o lendário cinema mudo exibido no Cine Gato Preto que, após sociedade com a empresa Peduti, tornou-se Cine Theatro Avenida.

O responsável pela exibição de alta qualidade era o moderno projetor Holmes, distribuído pela empresa Bygthon & Cia., que tinha como “cúmplice” na tarefa de encantar o público a execução de música ao vivo que ora se dava pelas mãos dos pianistas Célia Valente, Zenite de Almeida e Waldermar Hansted, ora pelas diferentes bandas que se revezavam por trás da tela. Os intervalos para a troca de rolos de fita iluminavam uma plateia atenta: homens e mulheres com trajes de noite, adolescentes e personalidades assisenses.

Responsável pela exibição dos maiores sucessos hollywoodianos, o cinema apresentava as comédias de Charles Chaplin, as aventuras de Bang-Bang e as grandes estrelas do cinema que nesse momento se tornavam atrações dos filmes, por intermédio das quais Assis entrava em contato com novos costumes de vestir, falar e se portar. Foi ainda em 23 de agosto de 1930, que o cinema falado, que tanto alarmou o mundo cinematográfico e criou inúmeros obstáculos para a produção e exibição do cinema brasileiro, chegou ao território assisense com o filme “Alvorada e Paixões”.

Outro cinema importante foi o Cine São José, construído pela empresa teatral Peduti e que teve seu auge nas décadas de 50, 60 e 70 (quando se esvazia pela democratização da televisão em Assis). A programação se dividia entre os filmes épicos, comédias e faroestes, com destaque para o western spaghetti italiano, que naquele momento alcança amplo sucesso com suas cenas de duelo, nas quais o herói faz justiça com as próprias mãos, e seus recorrentes personagens Django, Sartana, Sabata, Trinity, entre outros.

Localizado em um ponto estratégico perto do centro da cidade, foi também marcado por intensa sociabilidade ao seu redor. Popular entre a população local, o findar das sessões de cinema nos finais de semana eram marcadas por encontros, amizades, namoros, paqueras e confrontos tão típicos das noites das cidades interioranas.

Nos anos de 1960, o antigo Centro Católico se torna Cine São Vicente, que na década de 1980 dá lugar ao atual Teatro Municipal. Localizado na Rua Floriano Peixoto, o prédio leva o nome do Padre Enzo Ticinelli, tendo sido um ponto central de sociabilidade da comunidade assisense, recebendo até mesmo excursões de habitantes das cidades vizinhas para as sessões cinematográficas que depois se aglomeravam na praça em frente do cinema, que contava inclusive com bandas tocando no coreto.

Segundo Marcos Barrero, o Cine São Vicente tem como maior bilheteria o filme italiano “Dio Come Ti Amo”, dirigido por Miguel Iglesias: a fita leva o nome da canção de sucesso da cantora e estrela do filme Gigliola Cinquetti. Quando exibido no Brasil, levou multidões às salas de cinema e na cidade de Assis não foi diferente.

Por fim, temos o Cine Peduti, que surge no início da década de 1970, de propriedade da empresa Teatral Peduti, e apresenta como diferencial arquitetura luxuosa e moderna, excelente sistema de som e ótima programação. Esbarrando no fenômeno da TV, logo atrairia o público intelectual e os estudantes universitários e firmaria convênio com o Clube de cinema de Assis.

Podemos notar que as imagens cinematográficas tiveram vida intensa na cidade de Assis, tanto no quesito exibição quanto na conformação da sociabilidade e dos costumes. Notamos também o pouco espaço que tiveram os filmes brasileiros e os que não se enquadravam nas fitas da “moda”. O papel de oferecer espaço a esses segmentos seria desempenhado pelo Clube de Cinema (1966-1983) de Assis, primeiramente dentro da UNESP- Assis e posteriormente na cidade, juntamente com o Cine Peduti.

O Clube teve como objetivo promover a apreciação e o debate da arte cinematográfica, por meio de projeções, debates, mostras, cursos, ciclos de cinema, trazendo para Assis uma nova forma de recepção no campo da cultura cinematográfica; buscou integrar escolas de Ensino Médio e Fundamental, promovendo ciclos de filmes infantis; trouxe, ainda, nomes importantes, tanto de diretores quanto de estudiosos e críticos de cinema. Os jornais de Assis foram testemunhas dessa agitada movimentação em torno do cinema.

Hoje, a cidade de Assis conta com o Cinema Municipal Piracaia, única sala de cinema de rua da cidade ativa até os dias atuais, o Cine Plaza Assis, pertencente ao Grupo Chainça de Cinema, e outras formas fragmentárias de exibição fílmica protagonizada por instituições, associações e amantes do cinema.

Este momento que traz outras causas e coisas já é outra história… mas permite dizer que reviver essa memória dos cinemas de ontem nos ajuda a contar muito do cinema de hoje.
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Texto: Priscila Constantino Sales, especialista em Gestão Cultural e mestranda em História pela UNESP – Assis | Foto: Prefeitura de Assis