Descendo do Mirante de Itapira pela Rui Barbosa, importante rua do comércio local, é possível ver uma fachada discreta no primeiro andar do número 342, com os dizeres: Santiago Fotografia. Lá encontramos em seu estúdio e galeria, André Santiago, 63, segunda geração de uma família de fotógrafos que atua na cidade há mais de 100 anos.
Fale um pouco sobre a história da fotografia na sua família.
A fotografia entrou na minha família no final do sec. XIX, com o meu avô José Santiago, que nem cheguei a conhecer em vida. Ele foi um dos primeiros fotógrafos de Itapira. Meu pai seguiu seus passos e trabalhou como fotógrafo aqui na cidade até os 85 anos de idade, mantendo o mesmo nome, que uso até hoje.
Como foi a sua formação na área?
Mudei para São Paulo na década de 1970, para estudar na Escola Pan Americana de Artes Fotográficas, onde me formei em fotografia. Depois disso, trabalhei em várias revistas da Editora Abril, mas como o nosso nome em fotografia era forte na cidade, decidi voltar, para dar continuidade ao trabalho do meu pai.
Diferente de São Paulo, onde havia fotógrafos especializados para cada tipo de trabalho, em Itapira nós tínhamos que fotografar de tudo: 3×4, batizado, casamento, debutante, fotos em estúdio com as pessoas vestidas de terno e roupas elegantes, que as pessoas tiravam para presentar amigos ou a namorada.
Como você compara o trabalho fotográfico que era realizado na época em que você começou, com os dias atuais?
É curioso como, hoje em dia, qualquer casamento tem 2 mil fotos; mas, naquela época, eram cinco ou seis no máximo! A gente tirava uma foto no estúdio e fazíamos cópias para os padrinhos. Os temas também mudaram. Nós fazíamos até foto de obituário, com o morto no caixão, e reportagem jornalística, documentando os acontecimentos da cidade… Mas, infelizmente, a maior parte desse acervo se perdeu com o passar do tempo. Pra você ter uma ideia, eu só tenho uma foto com meu pai e meu avô, onde também aparece a minha tia e a máquina fotográfica que eles usavam na época. Tenho restaurado algumas dessas imagens, mas é um trabalho muito dispendioso para um baixo retorno…
Numa situação ideal, com quais temas você gostaria de trabalhar?
Eu gostaria muito de trabalhar fotografando paisagens, animais, natureza… Fotos mais trabalhadas, como as que realizei para a Congada [a Congada é uma festa de tradição centenária em Itapira, marcada pela devoção a São Benedito, o santo negro]. Meu pai fotografava muito a Congada… E eu acabei seguindo seus passos. Registro o evento há mais de 30 anos.
Você frequenta o Parati em Foco, um dos maiores festivais de fotografia da América, há sete anos. Tem alguma lembrança em especial que gostaria de compartilhar sobre o evento?
Em 1976, conheci o grande fotógrafo Pedro Martinelli, pra mim um dos maiores fotógrafos brasileiros, que veio a Itapira para fotografar os boias-frias. Ficamos amigos naquela época, mas quando ele retornou a São Paulo, para logo em seguida passar um tempo na Amazônia fotografando os índios, nós perdemos o contato. Até que soube de sua palestra no Parati em Foco. Juntei algumas de suas fotos, da época em que passou por Itapira, e entreguei a ele no festival. Um tempo depois, fui presenteado com dois de seus livros. Um deles, “Martinelli, Pedro”, de 2011, conta com três fotos de Itapira, o que me deixa muito honrado.
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Texto e foto: Fernando Bisan