Patrimônio imaterial de Jacareí, o bolinho caipira faz parte da cultura da cidade e de todo o Vale do Paraíba. A iguaria é feita em vários municípios, mas os jacareienses fazem o prato típico com massa de farinha branca e recheio de linguiça. E também, até o momento, os únicos que o reconhecem como bem cultural.
Uma receita que viajou o Vale na oralidade, teve seu primeiro registro no Mercado Municipal de Jacareí, em 1925, com Ana Rita Alves Gehrke. Dona Nicota, como era conhecida, vendia no Botequim do Café e nas quermesses no Largo da Matriz, e recheava-o com a carne de porco.
Hoje quem cozinha essa mesma receita é Zequinha. Encontrei-o com sua família no espaço onde vende o bolinho há 80 anos. Talvez a simpatia e a boa conversa possam ter ajudado a ressaltar o sabor; a massa bem temperada, de farinha branca e salsinha, e o recheio de linguiça, com aquele tempero de anos de experiência e tradição, me convenceram: é o melhor bolinho que já experimentei na região.
Enquanto o bolinho fritava, Zequinha me contava que a arquitetura do Mercado era totalmente diferente, e que valeria a pena ter mantido na reforma. “Mas com o bolinho a gente mantém a tradição”, e voltou para a frigideira para retirar os bolinhos.
Conversei também com Patrícia Cristina da Cruz, museóloga no Museu de Antropologia do Vale – MAV, que pesquisou o bolinho como bem cultural imaterial em seu trabalho de conclusão de curso, quando se formou na Universidade Federal de Pelotas UFPEL. Ela reforça a importância do reconhecimento do bolinho, já que a memória afetiva no fazer, no comer, na socialização é preservada e repassada a cada fritada. O trabalho dela, inclusive, pode ser visto integralmente aqui ou ainda nesse artigo.