O que acontece quando quatro cariocas que dançam o passinho encontram um grupo de cubanos animadíssimos que tocam música latina, uma turma de artistas de teatro que também são músicos e mais dois artistas de circo que são incríveis acrobatas? Some a eles um grupo de criativos-reciclantes e uma galera apaixonada por histórias e contos, e você terá a intrépida trupe que forma o Roteiro 4: Os Clássicos do Passinho, Fernando Ferrer e banda, grupo Barracão Cultural, os Solas de Vento, a Cia. Circo de Trapo e o Coletivo Unsquepensa Arte.
Vivi a experiência de passar um dia de Circuito Sesc de Artes com eles. (E foi maravilhoso!) Devo dizer que acompanhar os artistas do roteiro 4, não é uma atividade para fracos ou cardíacos. Tem que ter preparo. Você tem que frequentar a GMF há pelo menos um ano pra conseguir seguir essa turma! Eles exigem muita força física nas pernas, bastante fôlego dos pulmões e uma boa condição cardiovascular, visto que te pregam grandes emoções. São festeiros e a energia deles contagia. Já no ônibus, no caminho que leva os artistas do hotel para as cidades, rolava um esquenta-criativo. Uma frase, um acontecimento, uma conversa deixada solta; tudo era motivo de alegria, de canto, de brincadeiras. Por exemplo: Um colega esqueceu o passaporte em outra cidade. Desespero? Não! Os músicos que acompanham Fernando Ferrer fizeram uma musiquinha para o “esquecido”:
Bebedouro foi a primeira cidade da região atendida pelo Sesc Catanduva que recebeu essa turma toda, seguida na sequência por Santa Adélia e Novo Horizonte, e foi lá que vivi meu dia de artista também. Porém em todas as três cidades, elementos em comum foram facilmente reconhecidos: gente que não se continha e entrava no meio da apresentação dos bailarinos do Passinho. Também, como culpá-los, né? Em todo lugar, Os Clássicos do Passinho encontraram os clássicos das praças, ou seja, os “catiorros”, que decididamente curtem programações culturais, comprovando que os melhores amigos do homem são realmente animais evoluídos e adoram a vida mambembe dos artistas de praça. Uns de coleira, outros soltos, mas todos presentes e integrados aos espetáculos.
Quando a peça teatral A Condessa e o Bandoleiro começava, as pessoas ao redor prestavam bastante atenção. Caia o silêncio na praça, só os atores podiam ser ouvidos. Algumas crianças me contaram ao término da apresentação que ficaram tristes pela morte da princesa (explicar a elas que uma condessa está abaixo de uma princesa na linha hierárquica da realeza revelou-se completamente inútil). Aprendi que se tem coroa e é a mocinha do conto, é princesa e ponto. Ao perguntar sobre o que achavam do enredo, todas me responderam era uma história de “dar muita risada”. Concluí que gostaram muito e seguimos todos, felizes para sempre.
A dupla de artistas circenses que apresentaram o espetáculo Os Perdidos tiraram suspiros da praça. A delicadeza do espetáculo contrastava com a força física dos artistas. Predominava uma atmosfera de sensibilidade e a fantasia aflorava pelos poros. Aquela escada era barco, foi montanha e também abrigo. Eu vi tudo isso no centro da praça, juro; eu e todo público presente. Dois artistas que conseguiram contar uma história inteira e nem abriram a boca! Foi uma das apresentações que mais mexeu com a fantasia das crianças. Eu sei disso não porque elas me contaram, mas porque também sonhei junto com elas, viajamos todos nós dentro daquele atlas para terras distantes. Depois, ao término da apresentação, a gente estava de novo sentado na praça, esperando outra atração, numa boa, enquanto o céu ao nosso redor ia escurecendo, preguiçosamente.
A programação de artes visuais, literatura e cinema acontecia em simultânea, ora com filas de estudantes ansiosos, ora com muitas famílias, cheias de avós e netos, ora com amigos, flanando ali e aqui.
Para encerrar a programação em Bebedouro, a atração musical internacional: Fernando Ferrer e banda, diretamente de Cuba! Até a produtora deles, a Lucy, é um show à parte, daquelas pessoas que você sente tristeza quando deve se despedir. No momento que a música latina começou, quem era tímido foi se transformando, se soltando, e na terceira canção a maioria já era bailarino de competição. As cadeiras, antes tão disputadas, foram ficando de lado, sobrando aqui e ali, estorvando quem sentia o chamado da dança. Uma turma de estudantes e universitários também aprovou com gosto a trilha sonora, faziam coro e coreografias combinadas, e no final, Ferrer chamou várias pessoas para dançarem ao seu lado. Terminamos todos bailando, ao som de salsa, de merengue, de bolero, guajira, cumbia e sabe-se lá o que mais. Era dois pra cá e um pra lá, uns totalmente fora de ritmo (euzinha), outros no maior swing (a Thammy do grupo do Passinho me humilhou muito) mas para a alegria geral, a maioria das pessoas esbanjava um gingado que dava gosto.
Queria gritar no final “Soy Loco por ti, Circuito!” mas como antes ilustrado, segurar o pique dessa turma é uma tarefa de titãs, e minha garganta já havia arriado há tempos. Mas tudo bem né, amigos do Roteiro 4, acho que ficou bem evidente a alegria da praça, (e minha, claro). Obrigada artistas, essa gente incrível que faz todo trabalho valer a pena, agradeço por cada minuto com vocês!
Texto: Paola Brunelli