Depois de muitos e muitos anos, enfim, a explicação de um mistério. E estou falando de um assunto sério: o incêndio à rodoviária de Ilha Solteira em 1975. Seu Clamilton Pereira da Cunha está na cidade desde 1968, e na época, era o fiscal da Rodoviária. Ele conta que todo o local se transformou hoje numa espécie de centro de compras… mas na memória dele, a rodoviária ainda está ali.
Mas afinal, como foi esse incêndio? Bom, contou o aposentado que tudo aconteceu por conta de uma calça amarrotada, acredita? Vou explicar melhor… Naquela época, havia um alfaiate que tinha seu estabelecimento bem ao lado da Rodoviária, grudado mesmo. Certo dia, um homem muito apressado pediu para que ele passasse sua calça. Na pressa e insistência do cliente, aconteceu que o alfaiate acabou esquecendo o ferro ligado. Pelo menos essa é a história contada por aqui. “Pegou fogo na madeira, subiu no forro, foi aquecendo tudo e pegou fogo.”, afirmou o Sr. Clamilton.
Ele disse que se lembra bem daquela dia: “O fogo começou à noite. Só vi o pessoal correndo. O bombeiro chegou, mas não conseguiu mais apagar. Lembro que ninguém se machucou.”
O aposentado trabalhou por 30 anos na CESP – Companhia Energética de São Paulo, e foi como funcionário da companhia que acumulou a função de fiscal da Rodoviária.
Muito prestativo ao contar a história do lugar, Seu Clamilton fez questão de mostrar o seu documento. Ele veio de Pernambuco, e com muito orgulho, disse: ” Sou índio, da Tribo Fulniô.” O aposentado também colaborou na construção da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, fazendo plano de carreira lá dentro. “Comecei como copeiro, depois operador de usina, fazia relatório da energia fornecida e recebida, e fui também mão pelada.” Mão pelada? “Mas que função é essa?”, perguntei. Rindo, Seu Clamilton respondeu que é uma espécie de dedo duro. Ele ficava de olho, e quem não trabalhava direito, tinha hora descontada. O pessoal devia ter medo quando ele chegava, né? Mas ele disse que era bonzinho.
Na despedida, ele quis falar umas palavras no idioma indígena de sua tribo, e até me ensinou a falar bom dia. Olha como escreve: “chaiakaka“. Apesar de ter deixado a tribo muito jovem, hoje, com 68 anos, ele se lembra bem de sua língua nativa e sente saudades do lugar. Mas com um belo sorriso… disse que aqui, se sente realizado. “Ilha Solteira é muito bom pra morar, a cidade é tranquila, não tem violência. Sinto orgulho de saber que contribuí aqui”.
Texto e fotos: Pollyana Moda