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Quem dá a letra em Itapecerica da Serra?

Com a identidade visual do Circuito Sesc de Artes na cabeça – e estampada no peito, na camiseta amarela e vermelha – chegamos em Itapecerica da Serra com uma dúvida na cabeça:  será que as fachadas, cartazes e muros da cidade ainda se cobrem de escritos feitos à mão?

Do bolsão em frente à prefeitura, onde as estruturas para receber as apresentações de música, circo e dança começavam a ser montadas, partimos em expedição pela vizinhança. Olhos atentos em busca de pinceladas, traços inventivos, pequenos tremores e até “defeitinhos” que denunciassem a beleza do gesto, a singularidade de uma arte feita com as mãos. Começamos assuntando em uma colorida loja de doces, passamos por uma oficina mecânica, visitamos um depósito de água, entramos numa loja de colchões. Saímos com um número de telefone em mãos.

 

Ligamos. Do outro lado da linha estava Valter, 43 anos, letrista e cartazista que começou a aprender o ofício aos 13 anos de idade, depois de fazer um curso de desenho por correspondência. Passou por anos de aprendizado e trabalho em um ateliê em São Paulo, desenhou logos em feiras e exposições no Anhembi, pintou todo tipo de comércio de rua, assistiu ao surgimento dos banners e impressoras, e também viu de perto a crise gerada em São Paulo depois da criação da Lei Cidade Limpa, que limitou bastante o espaço para propagandas nas fachadas na cidade.

Valter encontrou a saída para resistir às crises da profissão no sobe e desce dos preços do supermercado. Hoje, como cartazista, pinta até 80 faixas por dia: do quilo do abacate à promoção do leite em pó. Foi num dos supermercados de Itapecerica – o Cercadão – que ele nos recebeu com surpresa naquela tarde. Entre uma pincelada e outra, foi nos contando sobre o ofício. Aliás, “pincelada” é só um jeito de falar, já que ele não usa pincel, mas uma ferramenta que ele mesmo inventou – e que juramos não contar a ninguém do que é feita, já que a concorrência é grande na região! 😉

Fato é que ela funciona muito bem, como tivemos a ousadia de testar com nossas mãos! O resultado, óbvio, ficou aquém do trabalho do Valter – mas quem sabe depois de uns aninhos de prática?!

Texto: Cristiane Komesu
Fotos: Anderson Carvalho

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